29 jan Canário num Coma?
Ou MUDE A SUA HISTÓRIA, MUDE A SUA VIDA
Parece bobagem o subtítulo deste artigo. Sabe por quê? Porque é normal confundir história pessoal com circunstâncias pessoais. Às vezes, mudar as circunstâncias pessoais não é possível – ou não é possível mudá-las num futuro próximo. Outras vezes, o que você acha que quer é uma mudança não muito drástica. Sobretudo, o que você, eu e todo mundo ainda assim deseja é ser mais feliz. Muito feliz.
Entretanto, há vezes que parece que não há como mesmo como a história para mudar a vida – não para melhor, pelo menos, porque as circunstâncias, que confundimos com história pessoal, estão uma verdadeira chafurda. Por mais que tente, não pode, por exemplo, candidatar-se a um novo emprego imediatamente, está grávida de sete meses e será mãe-solteira ou só tem opção, pela sua falta de qualificações e por estar morando numa cidade minúscula de se deparar na empresa com aquele amigo que faz com que se senta desconfortável. Quais opções, então, restariam?
Num processo de coaching, sem dúvida, ouvirá a costumeira lengalenga do ‘mude a percepção, crença ou opinião sobre a situação (história) – e isso irá ajudar a mudar a atitude frente aos problemas’.
Será?
Vamos ver…
O filósofo grego Epicteto, da Escola Estoica, disse há mais de 2.000 anos que as pessoas são perturbadas, não pelas coisas que lhes acontecem, mas pelos princípios e opiniões que formam sobre essas coisas (que lhe acontecem). A ciência comportamental moderna concorda! O psicólogo americano Albert Ellis, famoso pelo desenvolvimento de terapia comportamental emotiva racional, provou que o “como” se reage a eventos é determinado em grande parte pela “visão” que se tem dos eventos e não pelos próprios eventos. A costumeira lengalenga do ‘mude a percepção, crença ou opinião sobre a situação (história) – e isso irá ajudar a mudar a atitude é VERDADEIRA.
Os coaches estão cerrrrrrrrrrrrrrrrrrrrtos! E a questão que fica é: como mudar a percepção e melhorar a atitude frente aos problemas?
Primeiro passo: diferenciar o que é história pessoal de circunstância pessoal. A história pessoal é a identidade é construída socialmente, os acontecimentos da vida de uma pessoa produzem sobre ela uma imagem de si mesmos, que se constrói a partir das relações que ela estabelece com os outros: pais, família, parentes e amigos, já a circunstância pessoal são as condições de caráter pessoal de cada um. Por exemplo, uma pessoa honesta (história pessoal) acusada de um crime que não cometeu (circunstância pessoal).
Segundo passo: entender que a circunstância pessoal normalmente é controlada por forças externas, se houve acusação do crime, a defesa terá de ser feita por um bom advogado e acatada por um juiz competente; já a história pessoal é sempre controlada por forças internas, mesmo que haja necessidade de medicação, como nos casos de depressão severa. Daí, é delegar a circunstância pessoal a quem possa resolver (que poderá ser a própria pessoa em no momento apropriado) e assumir o controle da história pessoal (o que pode ser feito a qualquer momento, é uma questão de decisão: “vou mudar aqui e agora!”).
Aqui estão cinco maneiras fáceis de assumir o comando e começar a mexer nessas histórias:
1. Admita que não está feliz. Não se pode mudar nada se não tem conhecimento de que algo precisa ser alterado. Pare o ciclo de desejar que as coisas fossem diferentes e assuma o controle dos pensamentos e reações aos eventos e às pessoas.
2. Lembre-se de que otimismo é uma escolha. Não se nasce com uma atitude positiva ou negativa. É algo que se cria através de uma perspectiva das experiências vividas. Verdade é que poucas situações são completamente ruins e, por ruim que sejam, um truque é tentar apresentar três a cinco pontos positivos de qualquer situação desafiadora e escrevê-los num papel para que possa se lembrar. É uma coisa muito “Pollyanna”, mas que funciona.
3. Use palavras positivas. Dá um certo trabalho, mas use declarações como, “Eu tenho esperança”, ou, “Vamos encontrar uma solução”, durante o dia. As palavras que se usa quando se fala têm um grande impacto sobre a atitude e as perspectivas emocionais.
4. Envolva-se com amigos que têm uma “vibe” positiva. Tente cercar-se de amigos que exalam energia positiva. Preste atenção às palavras que eles usam quando conversam sobre o dia deles. Verifique se são uma influência positiva ou negativa. Positivo: FICA. Negativo: VAI.
5. Crie e repita uma afirmação em várias horas do dia. Encontre uma citação que seja significativa e diga-a em voz alta todas as manhãs e repita-a mentalmente durante o dia. “Algo maravilhoso vai acontecer hoje”, exale energia positiva. Isso soa um tanto “Zen” e místico, mas é realmente um método muito simples e eficaz para reeducar o subconsciente – e é defendido por pesquisas científicas, mas por antigas religiões.
Então, na próxima vez que se deparar com uma situação desafiadora, lembre-se dessas dicas para moldar a percepção que terá das histórias – e melhorar sua atitude ante a elas. Poderá não ser capaz de mudá-las, mas certamente poderá escolher a resposta mental e física que terá sobre as histórias pessoais (que controla) e as circunstâncias (que quase sempre são controladas por outrem). Com o passar do tempo, notará uma mudança real, e verá que os amigos e familiares também notarão!
Certa vez, após terminar uma sessão de terapia de histórias com uma cliente, recebi um elogio de que nunca mais me esqueci: “antes”, disse ela, “eu me sentia um ‘canário num coma’, agora estou acordada e liberta”. Em suma, as histórias pessoais são permanentes e nos definem, as circunstâncias pessoais, embora tenham uma aparência de história, são cenários! Aqui estão hoje e amanhã já desapareceram ou foram trocados de lugar.
Assim são as histórias!
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Dica final: Compre o livro ou baixe-o no seu Kindle e embarque na emocionante história da doce Pollyanna, que mencionei neste artigo. Pollyanna, após ficar órfã aos 11 anos, vai morar com a sua amarga tia. Essa convivência, aparentemente impossível, vai transformar a vida de ambas e de todos à sua volta. Os cinco pontos acima são magistralmente ensinados neste livro. Talvez hoje não se sinta um ‘canário num coma’, mas não valeria já ir lendo para se prevenir?
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Post originalmente postado no LinkedIn de James McSill
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