11 nov Interestelar e Ficção Científica
Nas grandes histórias a superação humana se faz necessária para conquistar o público. Pois nela encontramos nosso alter ego, nossa busca em tornarmos algo que nunca seremos. Nas histórias épicas, apenas queremos ser melhores em algo, melhor marido, melhor filho, melhor pai. Essa sutil diferença, ou talvez não tão sutil assim para alguns, quem sabe seja a responsável pela transcendência dessas jornadas. E se o cinema existe por algum motivo, ele foi feito para filmes de ficção científica. 2001: Uma Odisseia no Espaço, Solaris, Contato, Alien, Blade Runner e Star Wars são clássicos que não me deixam mentir. Na minha lista ainda constam mais dois: Gravidade, e a mais nova inserção: Interestelar. Mas por que filmes de ficção científica? Porque neles podemos explorar não só a ciência pura, mas toda a nossa imaginação, os questionamentos sobre o que nos faz humanos, um vislumbre do que um dia possamos a vir a ser. (atenção contém spoilers!)
O novo filme de Christopher Nolan nos mostra um planeta Terra que começou a ficar inóspito para nós, humanos. E como mudamos de uma sociedade exploradora e consumidora, para uma que tenta ser mais igualitária, ao mesmo tempo que tenta reescrever o passado para que as novas gerações não repitam os erros do passado, e não gastem recursos cada vez mais escassos. Então o protagonista precisa decidir entre ficar na sua fazenda com sua família ou se aventurar pelo espaço e procurar um novo lar para eles e o resto da humanidade.
O que talvez todos os filmes tenham em comum, seja justamente, esse ponto, onde os protagonistas não queiram (num primeiro momento, quero deixar bem claro) essa ânsia por querer mudar o mundo. Querem apenas ser uma pessoa melhor. No filme de Nolan, acho que podemos reduzir a história a penas um ponto: como ser um pai melhor. Pois é isso que Cooper, personagem vivido por Matthew McConaughey busca durante o tempo todo. Por mais que tenhamos um cenário de fim do mundo, teoria da relatividade, viagem espacial e no tempo, tudo torna-se mais crível quando nos sentimos próximos ao que move o protagonista da película. Quem não quer um mundo melhor para seus filhos? Quem não faria de tudo, inclusive procurar um novo lar para eles? É sobre isso o filme. Eu poderia acabar por aqui. Mas ainda tem mais, muito mais.
Interestelar foi feito para se ver no Imax. É um filme muito visual, contemplativo, por isso não espere a montanha-russa de emoções de Gravidade. O som do filme mistura a belíssima trilha sonora de Hans Zimmer, com o silêncio do espaço sideral. Nolan queria que as imagens do espaço, principalmente do buraco negro, fossem realistas, já que as melhores representações que existem são através de fórmulas matemáticas. Era importante preservar a ciência por trás da ficção. O físico Kip Thorne participou do filme como produtor executivo, e auxiliou no desenvolvimento do buraco de minhoca e do buraco negro. O mais incrível, é que a parceria entre o físico e equipe de efeitos especiais, que queriam criar a mais realística imagem de um buraco negro, levou a uma descoberta científica sobre lentes gravitacionais.
“Faz um tempo que alguém não aparecia com uma visão tão grande sobre as coisas”, disse Tarantino depois de assistir ao filme, ao The Guardian. “Até mesmo os elementos, o fato de que o pó está em todo lugar, e eles estão vivendo em meio a isso tudo que está cobrindo quase o mundo inteiro. É algo que você espera de Tarkovsky ou Malick, não de um filme de aventura e ficção científica”.
Essa visão a que Tarantino se refere vai de encontro ao que imagino sobre essa grandiosidade que os filmes de ficção científica costumam ter. Os bons, claro. Durante todo o segundo ato do filme, temos um desenrolar de história comum, com ótimos elementos de construção da narrativa, que vão amarrando os pontos da história. Achei tudo muito verosímil, como deveria ser, principalmente por retratar o uso da relatividade. E como fazem uso dela! O tempo não é apenas um elemento a mais, mas o elemento chave do filme. Nolan gosta de brincar com nossas percepções com narrativas paralelas, brincando ainda mais com nossa percepção de espaço-tempo. E esse é o ponto alto do filme. Se você já assistiu outros filmes do diretor, deve estar esperando pelo plot-twist, ou a reviravolta do final. Pois bem, ela existe, e pelo que andei lendo, não agradou muito. Eu confesso, que fiquei meio decepcionado, principalmente porque foi simples e rápido, e logo após o momento em que eu me deliciava pela referência a 2001 de Kubrick. Funciona, mas poderia ser melhor, muito melhor. Ainda acredito muito no, “mate o personagem”. Teria sido brilhante, “ele sacrificou-se para conseguir a informação que poderia salvar a humanidade”. Mas não. Nolan preferiu manter o personagem vivo, como em 2001, mas sem a autorreflexão, sem a transformação. Apenas o homem que queria desesperadamente salvar a família. E isso, indo pro final do filme, é chato. Kubrick esperava que as pessoas saíssem confusas do cinema, refletissem, e voltassem para assistir novamente ao filme. E como disse Marcelo Forlani, do Omelete, “se 2001 é o livro que traz estas perguntas, Interestelar é a edição do professor, já com todas as respostas”.
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