19 set O poder do Storytelling: a prova que faltava
Há algum tempo a DVS Editora me convidou a escrever sobre o tema Storytelling. Publicamos o livro 5 Lições de Storytelling: Fatos, Ficção e Fantasia, hoje já em segunda edição. Não só nos meios artísticos, mas vai da festinha de aniversário de cinco anos da Daisy, filha do amigo Jeff (pai solteiro) à mesa diretora de grandes empresas; do Brasil ao Japão, escuta-se “istoritélim” ou “sutoritelinugu” (Storytelling) e a sala cai em silêncio; todos querem saber mais do que se trata e por que se fala tanto disto. Vou me concentrar neste artigo na festinha em questão, que aconteceu aqui na Inglaterra – de onde escrevo –, num fim de semana de Julho.
Eu falava sobre a segunda edição do meu livro e a “audiência” no jardim ouvia em silêncio – até os mais jovens, pois a palavra STORY em inglês tem um apelo e tanto –, até que chegasse a “hora do bolo”, dos balões, da comilança – o ápice da festa. Normalmente, nesse momento, para os arranjos finais, levamos as crianças para dentro de casa, ou mandamos que fechem os olhos, o que quase nunca obedecem, e a surpresa do bolo e do que mais tragamos ao jardim corre o risco de sair pelo ralo.
– Vamos entrar, meninada – pediu Jeff.
Nem a meninada, nem a “adultada” se manifestou.
– Vamos…
Recentemente sofri um acidente de carro que me impede correr atrás de crianças, mais ainda, de adultos. Como é verão aqui no Hemisfério Norte, pisquei o olho para o Jeff e decidi resolver o caso não pela força da garganta, subornando-os com os comes e bebes que estavam “por vir” se fossem para dentro de casa por alguns instantes (inglês é movido a sol, se houver sol eles não arredam o pé até virem as primeiras nuvens). E as parcas nuvens no céu, mais o poder do Storytelling, salvaram a festa!
Deitei-me na relva com a meninada, depois convidei os adultos, e apontei para o céu, para as nuvens, e “avisei” ao Jeff que ficaríamos no chão por uns quinze minutos. Rezei para que ele pegasse a dica para trazer o bolo, balões e o restante da parafernália enquanto eu distraía o pessoal.
Comecei com o que os meus autores chamam de “as minhas bobagens”: estórias absurdas que invento só para chamar a atenção para algum ponto. Neste caso, queria que se esquecessem do que o pobre Jeff estava fazendo por perto deles no jardim e me “ajudassem” a admirar as nuvens.
Espreitei para garantir que estavam todos deitados, olhando o céu, e lasquei uma estorinha ritmada, inventada na hora, cheia de aliterações e poliptótons (vejam no Google do que se trata), se essas técnicas de dizer bobagens funcionaram para Shakespeare, por que não funcionariam para mim?
– Look! There’s a rhino, there’s a hippo, and a super eight-winged bat! There’s a lion, and a monkey in a giant bowler hat! There’s a castle with a dragon, and the knight who’s come to slay! There’s an octopus with shoes on, and he’s holding a bouquet! (Vejam! Tem um rinoceronte, um hipopótamo e um morcego de oito asas. Tem um leão e um macaco usando enorme chapéu de mágico. Tem um castelo com um dragão, mais o cavalheiro que veio para matá-lo! Tem um polvo com sapatos nos tentáculos e está segurando um buquê!)
– Oh… – em uníssono.
E cada um, sem dúvida, “via” algumas das cenas e vomitavam estórias. Cada vez mais estórias. Quem não conseguia ver o dragão pedia ajuda e as estórias, agora criadas por um conjunto de cabeças, se multiplicavam mais depressa do que nas melhores salas de Storytelling para Marketing e Propaganda que eu já tinha visto na vida.
– Fim das estórias – gritou Jeff.
Mas não precisava ter gritado, nem que fosse um homem-bomba e tivesse puxado a cordinha e se autodetonado, o grito dele havia caído na surdez geral.
– Fim das estórias – repetia. – Agora temos bolo! Balões, serpentinas e confetes para animar a festa…
O macaco com o chapéu de mágico ERA a festa, mas eu já ouvia crianças discutindo porque o polvo só não usava sapatos na “mão” que segurava o buquê. Uma voz adulta feminina jurava que naquele tentáculo tinha visto dedos…
Ergui-me e fui resgatar o Jeff da situação, a meu ver, já embaraçosa.
– Ei, gente! – bati palmas que no meu estado nem devia bater. – Olha o bolo que o Jeff preparou para a Daisy.
– Depois – disse Daisy.
– Depois … – não foi bem um “depois” em uníssono, mas ninguém se levantava do chão.
Eu e Jeff nos autodetonamos puxando a cordinha do “parabéns para você…”, mas cantamos sozinhos.
Quanto a gente tem estórias – leia-se “Storytelling”–, não há bolo, não há balão, não há prazer maior do que as boas (ou até as más!) estórias.
No “Storytelling para festinhas de crianças de cinco anos” acertei em cheio. Ou acertei DEMAIS?
Por que a estorinha, ou essa sequência de palavras (em inglês) que formou um tipo de estória meio que do “País das Maravilhas”, embora sem sentido, funcionou?
Porque, para aquele ambiente, naquele exato momento, foi a estória certa, aliterações, poliptótons e tudo mais! Quanto ao meu jeito de contar, claro, deixo que vocês e Shakespeare julguem. Porém, termino com a pergunta que sempre me fazem aqueles que tentam usar estórias de qualquer maneira só porque “está na moda”:
– Qual a diferença entre “uma estória” e “a estória certa”?
– A diferença entre “uma estória” e “a estória certa” é mesma que entre “a minha filha quase engravidou há nove meses” e “a minha filha engravidou há nove meses”. A boa estória dá frutos!
“Estórias” são naturais a todos nós. Embora, cá entre mim e você, se o meu genro e a minha filha não souberem como se faz, ela não engravidará jamais!
O caso é que, usar estórias com um propósito definido para gerar os proverbiais frutos: influência, encantamento, vendas etc., tornando as nuvens de uma tarde de verão mais apetitosas do que o bolo da Daisy e os gritos histéricos de um pai solteiro, requer um tiquinho de esforço e técnica. Por ora, recomendo a leitura de 5 Lições de Storytelling: Fatos, Ficção e Fantasia. Em breve, terminarei o segundo livro da série: 5 Lições de Storytelling: Persuasão, Negociação e Vendas. Quem não viu “aliterações e poliptóton” no Google, não se apoquente. Haverá capítulos inteiros sobre o assunto no próximo livro e nos meus próximos artigos! Aguarde!
Originalmente postado na Revista Criática
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