10 nov Storytelling como habilidade para a liderança
Num contexto de constantes e profundas mudanças, a contação de histórias se tornou uma técnica gerencial poderosa para a prática da liderança e para a modelagem da cultura organizacional.
Um dos maiores desafios da gestão e liderança é como motivar as pessoas. Como promover o alinhamento dos colaboradores em torno da estratégia organizacional e, sobretudo, como gerar o engajamento e compromisso das equipes para o efetivo atingimento das metas da organização. A solução pode ser contar histórias.
Storytelling, ou contação de histórias, é uma tradição social que acompanha a civilização humana desde seus primórdios. Entretanto, como ferramenta de gestão, ela começou a ser mais frequentemente utilizada nas duas últimas décadas. Como narrativa de uma experiência vivida por uma pessoa ou grupo, a história é uma reimaginação impregnada por emoção e detalhes suficientes para provocar a imaginação do ouvinte para “viver” a experiência contada como se fosse real.
Histórias são fenomenais. Elas tem o poder de nos mobilizar, nos moldar, e formar nossas crenças. Uma boa história tem vida própria. Uma grande história muda qualquer coisa. Os seres humanos tem contado histórias desde a idade da pedra. Mas elas permanecem tão novas como sempre. A diferença que nós as compartilhamos por twitter ou facebook enquanto nossos ancestrais a compartilhavam em volta da fogueira.
O papel do líder como contador de histórias
Storytelling é uma importante habilidade da liderança para cumprir sua função de inspirar e motivar pessoas. Nelson Mandela, reconhecido mundialmente por suas habilidades de liderança, costumava contar histórias sobre o período em que ficou preso para influenciar e inspirar os seus seguidores. Como exemplo de líder autentico e transformacional, ele conseguiu remodelar uma nação inteira!
Uma das cinco práticas do líder pelo exemplo, como formulada por Kouzes e Pouzes no best-seller “O Desafio da Liderança”, é animar os corações das pessoas. O líder extraordinário é aquele que fala para os corações dos seguidores e não para as mentes. Ele contagia seus colaboradores por meio da emoção. Ao tocar o coração das pessoas, ele as inspira e as motiva para a ação. E nada é mais poderoso para provocar a emoção nas pessoas do que uma boa história.
Os verdadeiros líderes utilizam a técnica da narração de histórias como um meio para articular a visão compartilhada entre os colaboradores, fornecendo direção e inspirando o comprometimento para a ação.
Algumas empresas tem institucionalizado a storytelling como prática gerencial, fazendo seu uso em diversas atividades tais como comunicação corporativa, liderança, propaganda e gestão de pessoas. Na Nike, por exemplo, todos os altos executivos são designados “contadores de histórias corporativas”. Eles contam a história de como o cofundador Bill Bowerman despejou borracha no aparelho de waffle de sua esposa para criar um tênis de corrida melhor, inaugurando uma trajetória de inovação na cultura da empresa.
Outro exemplo é o da Procter & Gamble. A empresa contratou diretores de Hollywood para ensinar técnicas de storytelling para seus executivos.
Moldando a cultura por meio de histórias e metáforas
A storytelling tem sido cada vez mais frequentemente aplicada ao ambiente empresarial. Essa técnica é utilizada, entre outras aplicações empresariais, como ferramenta para moldar as crenças e valores e construir ou remodelar a cultura organizacional. Afinal, o passado da empresa se une ao seu presente através da sua história ao longo do tempo.
A cultura é uma das forças mais poderosas em uma organização. Entretanto, em muitas organizações, ela é invisível, intangível, e quase tem sua vida própria. Como meio de influenciar a criação de um produto ou ideia, ela demonstra valor e importância. Igualmente, uma história pode servir para demonstrar o que é importante e valioso para a organização. Afinal, histórias definem culturas e culturas definem as organizações.
A Disney, por exemplo, uma empresa especializada em contar histórias, vem utilizando eficazmente a técnica da narrativa em diversas ações de endomarketing, instilando efetivamente os seus valores organizacionais nos colaboradores.
Segundo uma pesquisa da Consultoria Booz & Company com 2200 executivos globais, apenas 54% das empresas são competentes para efetivar uma mudança organizacional sustentável. Entre as constatações, a pesquisa apontou que 84% acreditam que a cultura é crítica para o sucesso dos negócios; 51% acreditam que sua cultura necessita de uma grande revisão; e somente 35% consideram que sua cultura é eficazmente gerenciada; Outra constatação revelou os principais motivos por que as mudanças não são efetivamente implementadas nas empresas: Resistência dos empregados a mudança; Ceticismo devido a fracassos anteriores; Falta de envolvimento das equipes nos esforços da mudança; Falta de compreensão dos motivos e razões da mudança; e Capacidades e competências críticas não estão alocadas para sustentar a mudança.
O primeiro passo para modelar a cultura da empresa é envolver e engajar seus colaboradores. Em vez de criar um novo cartaz com palavras inteligentes e inspiradoras e pendurar cópias pelos corredores, devemos descobrir o que os colaboradores pensam e querem. O que eles pensam de sua cultura atual? Quais os prós e contras da empresa? Quais traços culturais são compartilhados? Enfim, “como se fazem as coisas por aqui”?.
O maior desafio de um líder é promover uma mudança cultural. Os líderes e gestores devem compreender o tipo de cultura e planejar o que e como irão construir e fortalecer as crenças e valores que distinguem a sua organização de modo positivo. Por meio do envolvimento dos líderes e das equipes, novas metas culturais poderão ser compartilhadas e realizadas, tais como treinamentos, ações de comunicação interna e realização de eventos e rituais que promovam as bases para a sustentação do desenvolvimento ou mudança cultural. É nesse contexto, que entra a Storytelling.
Ela é a ferramenta estratégica eficaz para o engajamento do corpo gerencial e colaboradores para a construção, fortalecimento ou mudança para uma cultura vencedora. Ao identificar, projetar e compartilhar histórias, mitos, situações e comportamentos que fazem parte da linha de tempo e evolução da empresa estamos facilitando o engajamento e alinhamento de crenças, normas, valores e direção. Ao se criar uma identidade e uma razão para pertencimento entre os colaboradores, surgirá um senso de lealdade e orgulho. E isso proverá consistência e alinhamento que poderão servir de pilares para o crescimento e sucesso organizacional.
O impacto do storytelling na motivação das equipes
Como engajar equipes é um dos maiores desafios dos líderes e gestores. Uma das palavras mais buscadas no Google é “motivação”. Um estudo feito nos EUA indicou que 70% dos colaboradores sentem-se desmotivados no trabalho e 75% dizem que deixaram o trabalho por causa de seus chefes – maus gestores. No Brasil, apenas 37% dos trabalhadores se sentem motivados.
Muitos líderes já perceberam que a narração de histórias possui alto impacto na modelagem, ou mesmo remodelagem, da cultura organizacional. No contexto atual, aonde temos que lidar com mudanças radicais e transformadoras na organização, muitas vezes de árdua execução, as histórias podem facilitar o engajamento e entusiasmo imprescindíveis para a desafiadora tarefa de fazer a mudança. As histórias podem fornecer clareza e entendimento, além de enfatizar os temas, rituais e narrativas organizacionais.
Como temos ensinado em nossos cursos de extensão universitária e workshops, juntamente com o professor Ricardo Fonseca, especialista no tema, estudos recentes no campo da neurociência explicam como a storytelling afeta o cérebro das pessoas. A história ativa partes no cérebro que permite ao ouvinte modificar a história conforme suas próprias ideias e experiências graças a um processo chamado acoplamento neural. Como um espelho, os ouvintes experimentam atividades neurais semelhantes ao apresentador. O cérebro libera dopamina no sistema nervoso quando o indivíduo experimenta uma situação emocionalmente desafiadora, tornando mais fácil a memorização do evento com maior acuracidade. O córtex também é afetado. Uma narrativa bem contada pode engajar várias outras áreas adicionais, incluído o córtex motor, o córtex sensorial e o córtex frontal.
Dados e informação excitam a mente, mas não conquistam corações
Atualmente, o big data e as inúmeras informações de mercado dirigem as organizações. Porém, muitas vezes eles são frios e eminentemente racionais. Embora forneçam objetividade e impessoalidade necessárias para a interpretação e utilização estratégica, esses dados e informações falam para a mente e não servem para os corações. Assim, ao agregar uma história emocionante, o líder pode contagiar e influenciar mais efetivamente para a ação e gerar energia e entusiasmo na equipe.
Apenas 5% das pessoas se lembram dos gráficos e estatísticas apresentados em uma reunião, enquanto 63% se lembram facilmente de uma história contada. Somos constantemente bombardeados com informações. As mídias sociais, artigos, blogs, webinars, aplicativos de notícias – provocam uma overdose de informações. Em meio a essa poluição, a storytelling é uma maneira eficaz para penetrar nessa desordem e sobressair-se no topo das informações. Assim, com sua inclusão na construção de narrativas e histórias, esses dados e informações ganham vida. Contribuem muito mais para a diminuição da incerteza e ambiguidade e garantem maior engajamento para a ação. Histórias agregam relevância e proveem contexto e significado. Elas também fazem as pessoas se lembrar de algo mais facilmente.
Histórias positivas tem a capacidade inerente de engajar emoções pois elas se referem as pessoas, coisas e situações com as quais os colaboradores podem se identificar e se orgulhar. Pessoas se ligam a histórias porque suas vidas são histórias.
Como os líderes utilizam o storytelling
Líderes empresariais são grandes contadores de histórias. Por exemplo, o ex-presidente da GE, Jack Welch, conta como sua mãe incutiu bastante amor e autoconfiança nele para superar o fato de que ele era o garoto mais baixinho em sua classe e tinha uma gagueira grave. Jeff Bezos, fundador da Amazon.com, muitas vezes conta a história de como criou o primeiro escritório da empresa em uma garagem convertida. Criar uma cultura de excelência ou promover uma mudança cultural sustentável não é tarefa fácil. Ela exige empenho, comprometimento e abordagem apropriada da liderança. O brasileiro Carlos Ghosn, CEO da Renault-Nissan, que é referenciado como um líder transformacional, salvou a Nissan da falência em 1999 e a transformou na 4ª maior montadora do mundo.
Um estudo internacional recente revelou que inúmeros gestores adotam a contação de histórias no seu o dia a dia para motivar e inspirar a mudança cultural. Eles consideram a storytelling como uma habilidade inerente à função do líder, “uma parte integral do que fazem”. Vários gerentes entrevistados responderam que “histórias conectam as pessoas”. Para eles, histórias são a maneira mais efetiva de se conectar com as pessoas e construir o tipo de clima onde os colaboradores sentem-se confortáveis e receptivos para internalizar os objetivos organizacionais. “Histórias emocionam e são memoráveis, elas humanizam a organização”, disse um gerente. “A contação de histórias é absolutamente crítica para a mudança cultural. Ela ajuda as pessoas a aprender lições. As pessoas facilmente a ouvem, a interpretam e a armazenam de uma maneira melhor”, disse outro entrevistado.
Como habilidade de comunicação e liderança, a storytelling pode ser aprendida. Além de compreender os conceitos, técnicas e abordagens que envolvem uma narrativa e as estratégias para torna-la mais eficaz, os líderes contadores de histórias costumam planejar e formatar a narrativa, assim como exercitar constantemente sua prática. Cada situação exige um tema específico para construção da narrativa, bem como os detalhes que serão enfatizados e o tratamento emocional que será abordado.
Escolher ou estruturar uma metodologia que permita facilitar a construção de histórias dentro do ambiente corporativo, criando parâmetros e caminhos para conexão entre cenário e cultura organizacional, perfis e arquétipos, trama e missão, entre outros aspectos, é essencial para contar uma boa história.
Para isso, existem princípios, técnicas e habilidades requeridas. Uma boa história é interativa, visual, conecta-se emocionalmente com o ouvinte e usa diálogos realistas ao introduzir personagens com os quais o interlocutor se identifique. Ao utilizar palavras, símbolos ou recursos audiovisuais para transmitir um conteúdo e compartilhar conhecimento, a arte de contar histórias acaba aproximando as pessoas da empresa, pois o ser humano estabelece ligações interpessoais e conexões emocionais através de uma narrativa.
Você deve estar se perguntando: como implementar a storytelling no ambiente empresarial?
Sob a perspectiva da aprendizagem e desenvolvimento, a implementação da storytelling exige a construção da conscientização junto aos gerentes da arte e da ciência de contar histórias. Uma vez consciente do que contar histórias significa, e do impacto que pode vir dessa habilidade, o próximo passo é a construção de um repertório e currículo que demonstre a aplicação estratégica da storytelling no que se refere a: treinamento, definição de expectativas e movimento direcional.
A segunda recomendação é com o foco sobre os líderes e a organização. A primeira ação, uma vez que os líderes aprenderam as habilidades de contar histórias, requer que os líderes apliquem as habilidades durante treinamentos, coaching e reuniões com a equipe. A segunda ação que é altamente recomendável. exige que a organização crie uma plataforma para ampla utilização da contação e capturação de histórias ao longos das áreas e departamentos. A terceira ação é garantir que os líderes recém-contratados sejam especialistas em contação de histórias, incluindo-a como uma habilidade necessária para aquisição de talentos. A quarta e última ação requer que a organização garanta que seus líderes estejam sendo recompensados pela efetiva aplicação dessa habilidade na mudança organizacional.
Para serem inovadoras e engenhosas, as organizações devem tentar esta nova abordagem para conectar os dados e informações com seu público, principalmente os colaboradores. A única maneira de fazer essa mudança é através da storytelling. Será a narração de histórias que irá criar efetivamente a mudança cultural que vai perdurar.
Via Administradores
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Uma boa história pode ser contada em uma mesa de bar, mas também pode ser utilizada para convencer uma pessoa, vender um produto, compartilhar uma ideia, transmitir uma informação difícil ou facilitar a compreensão de dados. Invista na habilidade #1 da liderança empresarial.
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