08 abr Uma conversa descontraída com James McSill
B+ – Quando a gente pensa em James McSill a gente pensa no consultor de histórias que, quando se pensa que está em um determinado país, já está em outro. Como fica em você o senso de pertencimento?
J+ – A Primeira Ministra da Inglaterra, nos arroubos nacionalistas, há uns dois anos, dizia que um cidadão como eu seria ‘um cidadão de lugar nenhum’. O que posso afirmar que não é verdade. Há dois lados. Primeiro, muitos dos meus amigos que trabalham com o planeta terra, temos um senso de pertencimento e devoção enormes pela humanidade, pelas pessoas, independente de sexo, gênero, raça, religião, cultura, ideologias políticas ou estilo de vida. A variedade cria lindas histórias. Segundo, tenho o que considero as minhas ‘terras’. Nasci no Brasil, muito da minha vida fiz e faço no Brasil. Então, o Brasil, faz parte de mim. O meu português tem sotaque brasileiro, conheço a cultura brasileira, tenho os direitos e deveres de qualquer cidadão brasileiro, tenho amigos, afilhados, parentes, parceiros de negócios. Ou seja, o Brasil vai comigo, não importa aonde eu for. Daí, tudo o que acontece no Brasil dizer respeito a mim, e eu ter um carinho pelo país, que se traduz por vezes em críticas, outras vezes elogios, mas sempre com muito orgulho, com a intenção de ver o país crescer e desenvolver. Depois tenho os meus países de eleição, dos quais sou cidadão ou tenho residência. Sou cidadão britânico, com residência na Escócia e em Portugal. A minha identidade pessoal é uma mescla desses dois países e o meu lado gaúcho-brasileiro.
B+ – Começando do fim, quais as vantagens de ser gaúcho-brasileiro?
J+ – Gostar de churrasco, falar com ‘tu’, estar acostumado com os pampas… (risos). Conhecer o país, as pessoas, a forma de pensar e estar no mundo, e poder trazer para o Brasil, adaptando às suas peculiaridades, conhecimento que, doutra forma, viria ‘traduzido’, muitas vezes atrasado. No Brasil tenho mais de vinte livros publicados, na Europa, dois. Isso diz tudo! O Brasil é um país peculiar, que busca o seu caminho, o seu lugar no mundo, no rol dos países desenvolvidos. O Brasil é uma jovem nação, com um povo jovem. A democracia, como vejo de fora, apesar de muita crítica interna, está forte e firme.
B+ – É que no Brasil…
J+ -No Brasil, digo, a dramaticidade da política faz parte da mentalidade e cultura, algumas vezes pode assustar, mas, no fim, tudo se resolve de um jeito brasileiro.
B+ – E Portugal?
J+ – Portugal é o meu país de eleição. O povo português faz parte do meu dia a dia. É um país pelo qual não sou apenas eu o apaixonado, basta ficar um tempo e Portugal passa a fazer parte da gente. Embora diferente, as referências culturais remetem ao Brasil, a regiões do Brasil. Em Portugal tenho um cantinho próprio onde passo boa parte do ano, em Portugal fiz muitos amigos, é um povo acolhedor. Recentemente dei uma palestra intitulada ‘O homem que herdou um povo’, sobre os meus antepassados, e não era eu apenas a chorar, mas a plateia portuguesa a chorar comigo. É amor mútuo.
B+ – E a Escócia?
J+ – Eu me tornei adulto na Escócia, o meu inglês permanece com traços escoceses, também foi um país que me acolheu, em boa parte, me educou. Conheço a História, os sonhos, as vontades. Fora a paisagem, uma das mais bonitas do mundo, principalmente na região de Glasgow, que é a que faz parte da minha vida, considero o meu povo. Digo que, se espreito pela janela e duas pessoas estão conversando do outro lado da rua, apenas pelo gestual e, se der para ver, o movimento dos lábios, sei o que estão dizendo. O meu lado mais racional, mais ‘frio’, mais quieto, mais prudente, tem muito a ver com a Escócia.
B+ – No outro dia, vi uma foto sua com a Primeira Ministra da Escócia ao seu lado…
J+ – Tenho a honra de conhecer a Primeira Ministra, partilhamos a mesma ideologia política, partilho com ela o desejo de ver a Escócia totalmente independente – o Reino Unido tem uma história complexa, de países que foram anexados, unidos sob o mesmo monarca, etc. Será um caminho tortuoso após 300 e tantos anos de união, mas, creio, possível.
B+ – E por falar em fotos, o mundo acompanha as suas aventuras pelo Facebook…
J+ – Para mim, e para os que me seguem nas mídias sociais, parece que o Facebook, o meu grupo pessoal, funciona muito bem. No meu LinkedIn, porém, há muita gente, muitos artigos; no Instagram, algumas fotos, mas não há o mesmo nível de engajamento. No Facebook, por exemplo, conduzo os meus grupos fechados de autores, o que funciona bem.
B+ -Mas o que eu pretendia perguntar era justamente algumas das fotos que vemos, e eu queria saber mais sobre como é o seu trabalho nesses grupos ou com essas pessoas. Por exemplo, vejo você interagir com vários atores e atrizes, entre os mais famosos no Brasil. Segui links em que os vejo elogiando o seu trabalho, alguns com palavras, digamos, de devoção. Onde você entra na vida das celebridades?
J+ – Olha, eu não entro. Eu estou. Pela natureza do meu trabalho acabei fazendo amizades com pessoas públicas, algumas se tornam amigos, outras, grandes amigos. Mas o pouco que pode ter visto são quando tiro fotos de alguma peça a que tenha dado consultoria, um livro com que tenha trabalhado com um ator-autor. Justamente por eu ter amigos que são rostos conhecidos, são raras as ocasiões que publico fotos da minha vida social.
B+ -Por quê?
J+ -Porque surgem curiosidades como essa. Os meus amigos jamais precisariam de mim para se promover. Felizmente, nem eu deles. Amizade é um ato de amor, é sagrado. Hoje vivemos em sociedades em que fazem de tudo para a autopromoção, o tal do ‘ganhar autoridade’. Honestamente, para mim, nunca foi nem será por aí. A autoridade, se é que a tenho, é pelo trabalho que realizo a quatro décadas, os livros que publico, os cursos que ministro e as instituições que me reconhecem e me respeitam como um profissional da minha área.
B+ – Como recentemente vimos as fotos de vocês com o embaixador britânico em Portugal. Que ocasião foi aquela?
J+ -Dessa ocasião posso falar. Tenho, confesso, orgulho de falar. Num processo que se iniciou lá por agosto de 2018 e se concretizou neste 12 de março, a McSill Story Studio começou a trabalhar a sua expansão com a parceria e apoio do DIT, que é o Departamento para Negócios Internacionais do Reino Unido. É uma oportunidade única. Em síntese, as embaixadas britânicas no mundo inteiro, se eu assim o desejar e um projeto for aprovado, poderão apresentar o meu trabalho para empresas ou indivíduos ao mais alto escalão do mundo dos negócios naquele país. Foi uma longa caminhada para chegar até aqui, será agora uma imensa responsabilidade fazer jus à oportunidade. A gente vive num mundo de hipérboles, hoje a igrejinha que funciona no porão da casa da esquina se autointitula catedral da fé e único caminho para a salvação terna. Oferecer o nosso trabalho, que para quem o adquire não deixa de ser um ato de fé antes de nos conhecer, por meio de contacos mundiais do DIT, assegura que somos o que somos. Na Escócia a gente diz que autopromoção é o mesmo que promoção alguma; embora não seja bem assim, o DIT abre muitíssimas portas. Nós nos tornamos a ‘face dos negócios britânicos’, há séculos respeitados como bastante éticos, extremamente capazes, transformadores. Todos os serviços que ofereço, desde as minhas consultorias individuais, palestras, workshops, grupos fechados, certificações e tanto outros, acabam por desfrutar de novos mercados, posso envolver mais parceiros, posso levar mais longe a minha mensagem de que o melhor instrumento para mudar o mundo são as boas histórias.
B+ -Que dicas você daria para quem está se iniciando nessa carreira ou quer se desenvolver mais?
J+ – Digo que o futuro pertence a um tipo diferente de pessoa com um tipo diferente de mente: artistas, inventores, contadores de histórias – pensadores criativos e holísticos “das regiões ainda misteriosas do cérebro que falam em nome das emoções”, cujas habilidades traçam essa linha invisível entre quem fica à frente e quem fica para trás. Sou fã de quem prega o deixar de bobagens e ir ao trabalho, incomoda-me quem diz o que não sabe, prega como se fosse um papagaio, mas se tivesse que colocar a mão na massa ia cair fora envolto na vergonha. Storytelling, se levado seriamente , seria como uma microcirurgia cerebral, precisa-se de gente qualificada. Ainda vejo gente com a habilidade de abrir uma lata de sardinhas falar que sabe «fazer» uma cirurgia. A palavra ‘abrir’ em ‘abrir uma lata e ‘abrir’ em ‘abrir um crânio e manipular o conteúdo’ são bem a mesma coisa…
B+ – Você diz isso porque tem sempre a mão na massa?
J+ – Sempre. E não pode ser de outra forma.
B+ – Nesse momento, além de estar concedendo a entrevista, em que mais massa estaria a sua mão?
J+ – Em breve estreia uma telessérie, da qual fui consultor, estou trabalhando para que mais pessoas possam se beneficiar da mensagem. Estou preparando um projeto para a IATA, que espero impactar no futuro companhias aéreas do mundo todo. Estou concluindo o terceiro livro da minha série 5 Lições de Storytelling, este abordará persuasão, negociação e vendas, por ângulos, espero, inéditos – ou pela minha voz, pelo menos. Estou organizando os representantes do McSill Story Studio na Espanha e Itália. Na Escócia, trabalhando para consolidar uma empresa, a Ideas Machine, que vende ideias para TV, em Portugal, dando início à McSill Films Europe e um sistema de acreditação de profissionais de desenvolvimento humano. Estou preparando uma série de livros didáticos para o Brasil. E continuo a atender os meus clientes e autores… Daqui a uma hora já estarei com a Mafalda, uma das grandes figuras das palestras inspiracionais da Europa e com os meus amigos da TV portuguesa… Isso significa novos projetos, mais ‘massa’ para amanhã e para os futuros amanhãs? Possivelmente! Falar sobre Storytelling é fácil, saber aplicar os seus princípios para obter resultados ou levar outros a obterem resultados são outros quinhentos. Mão na massa com uma boa dose de expertise ajuda, traz credibilidade real.
B+ – Você é uma daqueles profissionais ocidentais que chegou à China e ao Japão. Numa outra, ocasião você nos diria como foi essa caminhada?
J+ – Como todo o prazer.
B+ – Você dorme? Ou é um Highlander?
J+ – Primeiro, durmo o necessário. Segundo, nessa encarnação, creio que não – não que eu saiba. (Risos)
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